20 Ago, 2018

SNS tem menos de metade dos reumatologistas de que precisa

Reduzido número de vagas para formação não permite colocação dos especialistas necessários. Alentejo não tem nenhum reumatologista e há carências preocupantes em vários hospitais da área da grande Lisboa, numa altura em que a incidência de patologias reumatológicas está a aumentar.

O cenário é preocupante. O Serviço Nacional de Saúde  (SNS) precisaria de duplicar o número de reumatologistas para garantir a cobertura adequada de todo o território nacional e esse objetivo está ainda muito longe de ser atingido. Existem, neste momento, entre 90 e 100 especialistas no SNS mas são precisos pelo menos 250, ou seja, mais do dobro.

A estimativa das necessidades nesta área é feita pelo presidente do colégio de especialidade de reumatologia da Ordem dos Médicos, Augusto Faustino, em declarações ao Publico. Há 177 reumatologistas a exercer em Portugal mas quase metade está no privado. A partir de setembro, se tudo correr como previsto, entrarão sete especialistas no SNS. O reduzido número de vagas para formação nesta área – entre cinco e sete por ano – explica, em parte, a dificuldade em manter os rácios de referência a nível europeu. Em 2018 foram abertos 12 lugares mas nem todos foram preenchidos. No próximo ano estão previstas 20 vagas. Contudo, só “daqui a sete ou oito anos”, mantendo o número de 20 lugares de formação anuais, será possível atingir o número de médicos “necessário para fazer um atendimento nacional”, refere Faustino.

 

Carências em Lisboa e no Alentejo

 

Augusto Faustino avança que existem 22 serviços ou unidades de reumatologia em Portugal mas a a rede de resposta é ainda desigual a nível territorial. O Alentejo, por exemplo, não conta com nenhum reumatologista. Foi aberta uma vaga em reumatologia no concurso para jovens médicos este ano no Hospital de Évora mas não ficou colocado nenhum médico. “Por circunstâncias várias, é um hospital onde tem sido muito difícil de atrair uma equipa de reumatologia. Cobre uma área muito extensa, sem qualquer assistência de reumatologia a nível do SNS, e um reumatologista recém-especialista não se sente com coragem de abraçar sozinho essa tarefa”, lamenta Faustino.

Contudo, a falta de especialistas também se sente nas grandes áreas metropolitanas. Em área de Lisboa, as maiores carências estão nos hospitais Amadora-Sintra, Cascais e São José. Contudo, critica o Faustino, “não abrem vagas”. Aliás, diz o presidente do colégio de reumatologia da Ordem, “o que se verificou nos últimos anos é que não tem havido qualquer regra nem orientação ou lógica na abertura das vagas que é feita”. Os hospitais de Santo António, no Porto, e de Guimarães foram também considerados prioritários.

O aumento da resposta do SNS é fundamental, uma fase em que aumenta a incidência de patologias do foro reumatológico. O “Estudo Epidemiológico de Doenças Reumáticas em Portugal”, que analisou dados entre 2011 e 2013, aponta para 56% dos portugueses tenham sintomas ou sofram de alguma doença reumática diagnosticada. Contudo, 35% não sabe que tem uma doença deste tipo e apenas 22% tem um diagnóstico. As doenças reumáticas custam ao erário público cerca de 1,6 mil milhões, com perdas de produtividade dos trabalhadores a rondar os 200 milhões e despesas em medicamentos na ordem dos 400 milhões. Sem dados mais recentes, este continua a ser o único retrato da realidade nacional.

Há mais de 130 patologias que entram no âmbito da reumatologia mas a mais comum, em ambos os sexos, é a lombalgia, com uma prevalência a rondar os 26%. Seguem-se os vários tipo de osteoartrose, que se estima atingirem cerca de um quarto da população. Existem também doenças inflamatórias, como a artrite reumatóide, patologias inflamatórias sistémicas, como o lúpus, e doenças metabólicas, como a osteoporose. Há ainda um conjunto de doenças músculo-esqueléticas como a tendinite ou a fibromialgia. A prevenção e o diagnóstico atempado das doenças reumatológicas é essencial, num país cada vez mais envelhecido.

Saúde Online

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