9 Ago, 2018

Médicos sauditas podem ficar no Canadá até final do mês apesar de incidente diplomático

Os 800 médicos em formação estão entre os mais de 15.000 sauditas cujo Governo ordenou que abandonassem o Canadá, devido às críticas feitas pelos governantes canadianos à detenção de ativistas dos direitos das mulheres por parte do reino

Os médicos e internos sauditas em formação no Canadá poderão ficar no país até ao fim deste mês, anunciaram hoje as autoridades canadianas, dando aos hospitais tempo para gerir a súbita perda de pessoal causada por um incidente diplomático.

O gabinete da embaixada saudita que coloca os estudantes sauditas no Canadá convenceu o Governo do reino a deixar os médicos em formação ficar até 01 de setembro, disse o vice-reitor de educação pós-licenciatura da faculdade de Medicina da Universidade de Toronto, Salvatore Spadafora.

Spadafora, que supervisiona 216 desses médicos sauditas na Toronto Academic Health Sciences Network, afirmou que a perda de internos causará perturbações nos hospitais canadianos, particularmente em algumas áreas de especialização, mas acrescentou ser ainda demasiado cedo para saber qual será o impacto.

“Afinal de contas, sempre são 216 pessoas que deixarão de aparecer para trabalhar”, observou.

Embora o Governo saudita diga que os estudantes, cuja educação está a pagar, poderão agora estudar noutros países, a mudança irá alterar dramaticamente o futuro de muitos.

Alguns dos internos e médicos estão a iniciar o quinto e último ano dos seus programas de formação e a mudança fará descarrilar as suas carreiras, explicou Spadafora.

“Eles são pessoas muito dedicadas e inteligentes e trabalhadoras que estão a estudar muito. Ver isso interrompido é muito stressante para eles”, comentou, acrescentando que é também difícil para aqueles que têm famílias e empréstimos.

“Tudo o que conseguimos foi um pouco mais de tempo, até ao fim do mês. Não é que vá resolver tudo, mas ajuda as pessoas, o que tem realmente sido a nossa prioridade”, frisou.

“Esperamos que, ao mais alto nível, as coisas se resolvam e possamos evitar tudo isto”, disse ainda Spadafora.

A ministra dos Negócios Estrangeiros canadiana, Chrystia Freeland, declarou que os estudantes sauditas continuam a ser bem-vindos no país.

A televisão estatal saudita noticiou que o Ministério da Educação está a elaborar um “plano urgente” para retirar milhares de estudantes bolsistas sauditas de instituições de ensino canadianas e transferi-los para outros países.

A companhia aérea estatal saudita anunciou num comunicado divulgado na sua conta oficial da rede social Twitter que irá suspender todos os seus voos para Toronto a partir da próxima segunda-feira, 13 de agosto.

O diferendo surgiu devido a ‘tweets’ de diplomatas canadianos exortando o reino saudita a “libertar imediatamente” ativistas dos direitos das mulheres que tinham sido detidas.

Entre as ativistas detidas, está Samar Badawi, cujo irmão, o jornalista Raif Badawi, foi detido na Arábia Saudita em 2012 e condenado a 1.000 chicotadas e dez anos de prisão por ter insultado o Islão no seu blogue.

O seu caso é, há muito, abordado pelos grupos internacionais de defesa dos direitos humanos e por diplomatas ocidentais, entre os quais os canadianos, que têm apelado à Arábia Saudita para o libertar, sem êxito até agora.

LUSA/SO/MM

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