6 Jul, 2018

Stefan Oschmann, presidente da EFPIA, defende sistema de saúde focado nos resultados do doente

A Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma) organizou, na passada terça-feira, a conferência “Um Compromisso com as Pessoas” com o objetivo de debater os desafios que a indústria farmacêutica enfrenta no contexto europeu. Olhou-se com otimismo para a inovação da saúde em Portugal, mas concluiu-se que ainda há ainda um longo caminho a percorrer de modo a colocar o doente no centro da decisão.

A abertura da conferência ficou a cargo de João Almeida Lopes, presidente da Apifarma que reconheceu o esforço do ministério da Saúde e do Infarmed na aprovação de novos medicamentos, salientou, todavia, que é preciso “fazer mais”.

“Falar em equilíbrio e sustentabilidade do sistema é falar do doente e do cidadão. São eles o primado da decisão. E nesse sentido precisamos de fugir dos raciocínios frio e impessoais que resultam vezes demais em cortes, em redução da qualidade dos serviços e em obstáculos que barram o acesso aos melhores cuidados de saúde”, sublinhou.

O representante da indústria farmacêutica relembrou a importância do acordo assinado com o Governo para o triénio de 2016-2018 e considera “fundamental” que seja confirmado ainda em 2018.

João Almeida Lopes, presidente da Apifarma

Heitor Costa, diretor executivo da Associação que congrega a maioria das empresas farmacêuticas a operar em Portugal, falou sobre a inovação em Portugal nos últimos anos, destacando os pontos de evolução do país, reforçando, tal como o tinha feito antes João Almeida Lopes, que ainda há muito a fazer para que Portugal acompanhe os restantes países europeus.

Na sua apresentação, Heitor Costa referiu que, em 2018, há 59 novos medicamentos de primeira linha a aguardar decisão de financiamento público, com uma média de espera de 14.4 meses, sendo a maioria indicado no tratamento do cancro.

O diretor executivo a Apifarma reforçou ainda que, no futuro, é necessário olhar para a saúde como um investimento, garantir que o acesso às terapias mais adequadas fica em pé de igualdade com os outros cidadãos europeus e ter em consideração economias de curto e médio prazo que a inovação possibilita, evitando cirurgias e tratamentos adicionais e dispensáveis.

Heitor Costa, diretor executivo da Apifarma

Seguiu-se a intervenção de Stefan Oschmann, que considera que investigação farmacêutica está “a viver tempos entusiasmantes”. No âmbito da evolução, o presidente da Federação Europeia da Indústria Farmacêutica (EFPIA) e CEO da Gigante Merck, uma das maiores multinacionais a nível globa, salientou o aumento da esperança média de vida e os avanços no tratamento de várias doenças, exemplificando a Hepatite C, o VIH, as doenças cardiovasculares, a diabetes e o cancro, referiu que há “cerca de 7000 medicamentos em desenvolvimento” e destacou o aparecimento de tratamentos inovadores como as terapias de genes, as terapias antibacterianas e as terapias Car-t.

O presidente da EFPIA defende que “não podemos ignorar que o mundo está a mudar” e que com isso surgem novos desafios. Em 2025, estima-se que a população global aumente 1 bilião, com 500 milhões com idades de pessoas acima dos 50 anos e com as doenças crónicas a constituírem 70% das doenças em todo o mundo.

Para o Stefan Oschmann, no futuro “manter a saúde acessível será um desafio”, que poderá ser ultrapassado graças à tecnologia e habilidade para tratar dados. A EFPIA acredita que para existir um sistema de saúde efetivo e sustentável, e com baixos custos, é preciso seguir uma abordagem focada nos resultados do doente.

Stefan Oschmann, presidente da EFPIA e CEO da Merck KGaA

O segundo momento da conferência ficou marcado pelos comentários do jornalista André Macedo e do médico psiquiatra e investigador Tiago Reis Marques.

O jornalista reforçou a necessidade de o doente ser a prioridade na saúde, considerando que na relação entre o ministério da saúde e o ministério das finanças, as contas passaram a ser o centro da questão.

Por sua vez, Tiago Reis Marques procurou avaliar a solução proposta por Oschmann. Na opinião do médico psiquiatra, a ideia de um sistema focado nos resultados é “ótima”, mas só em alguns casos, nomeadamente nas doenças em que existem biomarcadores válidos, como a diabetes, exemplificou.

O investigador considera que “a seleção de pacientes, a definição de outcome (resultado) e a recolha de dados” são os obstáculos a este tipo de sistema. Tiago Reis Marques defende que o futuro e a evolução na saúde – e na indústria farmacêutica – passam por um investimento em três grandes áreas: big data, machine learning e inteligência artificial.

Jornalista André Macedo e médico psiquiatra Tiago Reis Marques

A conferência encerrou com o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, que procurou reforçar o papel do governo e dos ministros no âmbito da saúde, convidando os presentes a fazerem um “exercício de memória” para constatar os “factos”.

O ministro realçou os investimentos na saúde, a posição de Portugal na inovação nas áreas do VIH, Hepatite C e no desenvolvimento de ensaios clínicos, considerando que a Apifarma não é “um inimigo a abater” e que a relação que o Governo estabelece com a associação é “muito dura” e “muito firme”, mas “leal”, permitindo que hoje “a despesa pública com medicamentos em percentagem do PIB atinge um valor historicamente baixo: 1.1%”, refere.

Adalberto Campos Fernandes, ministro da Saúde

Adalberto Campos Fernandes salientou ainda que o sistema de saúde português está melhor agora do que há dois anos com mais acesso aos medicamentos e aos serviços, mais profissionais e maior valorização e respeito pelo trabalho, acompanhados por uma vaga de investimento “que é a maior desde que o SNS existe”, assegurou o governante.

Por fim, o atual ministro da saúde garantiu que Portugal terá, em outubro de 2019, um serviço nacional de saúde mais forte, moderno e “muito mais sustentável do ponto de vista económico e financeiro”.

 Saúde Online

Imagens: Apifarma

 

 

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