Cuidados domiciliários perderam 655 vagas em três anos

Números contrariam intenção do governo de aumentar a resposta ao nível dos cuidados continuados domiciliários. Já no internamento, houve um acréscimo de mais de mil camas desde 2015.

Continua a marcar passo a intenção dos responsáveis políticos de aumentar a quantidade de cuidados prestados aos doentes nas suas casas. Em março deste ano, havia menos 655 vagas nos cuidados continuados domiciliários, em relação ao mesmo mês de 2015. Já os lugares nos cuidados continuados integrados (internamento) aumentaram 1.048 nos últimos três anos, segundo dados constantes do Relatório de Primavera 2018, do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, que é apresentado esta terça-feira.

A diminuição de cerca de 10% nas vagas domiciliárias demonstra que um dos objetivos centrais da reforma da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), que era “privilegiar a domiciliação e as respostas comunitárias, não foi ainda alcançado”, lê-se no relatório. Assim, havia, em março, 5930 vagas domiciliárias e 8770 nas várias unidades de internamento (inclui camas de saúde mental e cuidados paliativos).

As metas estabelecidas apontavam para um acréscimo de 9% dos lugares de internamento e de cuidados domiciliários em 2017, que resultaria em 8.843 camas, no final do ano. Contudo, os números revelam que “se ficou aquém, em mais de 500 camas”, refere o documento, que aponta como justificações possíveis as restrições financeiras na saúde nesse ano.

“A forte aposta na domiciliação dos cuidados” era um dos objectivos do plano de desenvolvimento da rede nacional de cuidados continuados integrados (2016-2019), desenvolvido no âmbito da reforma do sistema de saúde projetada pelo atual governo. A par disto, também o “desenvolvimento do Estatuto do Cuidador Informal”, que é, dizem os autores do relatório, “fundamental para a domiciliação dos cuidados”, “continua sem ser concretizado”.

Já os Cuidados Integrados Pediátricos (de internamento e em ambulatório) merecem destaque positivo, depois de terem ganho 20 camas, bem como as unidades de saúde mental – que viram aumentar a sua capacidade de resposta, com um acréscimo de 221 lugares.

 

Tempo de espera e ocupação

 

Quanto ao tempo que um utente demora a conseguir uma vaga numa unidade de cuidados continuados, o relatório revela que a região de Lisboa e Vale do Tejo é a que apresenta o maior tempo de espera entre a referenciação e a identificação de vaga para as Unidade de Média Duração e Reabilitação e Unidade de Longa Duração e Manutenção. A referenciação demora, em média, 67 dias e a identificação de vaga outros 37.

Os cuidados pediátricos em ambulatório na região norte (67,9 dias) são os que apresentam o mais elevado tempo de espera de todas as tipologias, observa o documento.

Sobre as taxas de ocupação, o relatório indica que são maioritariamente superiores a 90% nas unidades de internamento, enquanto nos cuidados domiciliários nunca atingem os 75% da capacidade oferecida em cada região. Isto pode significar, apontam os autores, que há um desfasamento entre a dotação de lugares e de profissionais multidisciplinares, ou seja, existem médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos em número insuficientes para responder à procura, o que faz com que muitas vagas estejam disponíveis mas, depois, não haja ninguém para assegurar a resposta ao utente. O apoio domiciliário pressupõe também o apoio na satisfação das necessidades básicas e nas actividades do dia-a-dia.

Saúde Online / LUSA

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