FNAM acusa Ministério da Saúde de estar “aliado aos interesses económicos” e de “desviar o dinheiro para os bancos”

João Proença admitiu estar “a pensar em várias formas de luta que não vão passar por greves". “Ao fim de um mês e meio de greves, [o Ministério] não só não iniciou as negociações, como não temos nenhum problema resolvido, nomeadamente os concursos".

O presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), João Proença, acusou hoje o Ministério da Saúde de estar “aliado aos interesses económicos”, depois de ter afirmado que não há investimento na Saúde por “uma questão de decisão política”.

Antes do segundo debate nacional sobre o Sistema Nacional de Saúde (SNS) e as carreiras médicas, realizado esta terça-feira pela Ordem dos Médicos, no Porto, o responsável sindical deixou várias críticas ao Ministério liderado por Adalberto Campos Fernandes, quando questionado sobre a falta de investimento na área.

É uma questão de decisão política, não é um problema económico nem financeiro. Não estão interessados no investimento na saúde, porque desviam o dinheiro para os bancos, para outros interesses e para os próprios grupos económicos. O orçamento da saúde desde há 15 anos para cá aumentou imenso o orçamento para o setor privado. Os grupos económicos do setor privado estão em grande. O ministério da saúde está aliado aos grupos económicos”, acusou.

Greves ineficazes

João Proença admitiu estar “a pensar em várias formas de luta que não vão passar por greves, porque isso só prejudica a atividade médica e assistencial”, acrescentando que vão “começar a fazer resistência a determinado tipo de coisas, como a passagem de receitas por via eletrónica”, e também efetuar reuniões com comissões de utentes.

Ao fim de um mês e meio de greves, [o Ministério] não só não iniciou as negociações, como não temos nenhum problema resolvido, nomeadamente os concursos. E se não colocarem médicos nos hospitais e centros de saúde, a assistência médica é má. Isto reflete-se nas urgências que estão cheias de gente porque os cuidados primários de saúde e as consultas nos hospitais, não respondem às pessoas”, atirou.

O bastonário Médicos, Miguel Guimarães, relativizou a questão de não haver dinheiro, ao dizer que acha haver “falta de investimento ou financiamento adequado ao serviço público”, que leva a situações como a da denunciada hoje, sobre a falta de um radiologista no Hospital de S. João, no Porto, durante a noite, exemplificou.

“É urgente que o Governo crie as condições concorrenciais necessárias para poder fixar os jovens em Portugal, porque se continuarmos a perder jovens da forma que temos perdido, vamos perder a capacidade de inovação e de acompanhar o desenvolvimento da nova medicina que acontece a uma velocidade muito rápida”, afirmou sobre a diferença de condições no SNS e no setor privado.

Mostrou também concordância com a desistência das greves, mas sublinhou que “não é um baixar de braços”, optando por “outras formas de demonstrar desagrado”, tais como “estabelecer regras de boas práticas, ao fazer o que significa uma boa relação médico-doente”, aumentando os tempos dos doentes durante as consultas, que neste momento “são ridículos”.

“Neste momento, [a relação médico-doente] está claramente afetada, não só pela pressão das administrações das unidades de saúde, mas também por aquilo que é a ditadura informática e que vai limitando escutar o doente. Temos de definir, e penso que vai ser definido no mês de julho, aquilo que são os tempos padrão das consultas médicas”, avançou.

LUSA

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