Satisfação e bem-estar dos médicos: será um tema relevante?
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Satisfação e bem-estar dos médicos: será um tema relevante?

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Grupo Lusíadas Saúde
Director Geral da InfoCiência

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Grande parte do que se escreve em Medicina refere-se a doenças e doentes, sendo o foco conhecer melhor as primeiras e tratar melhor os segundos.

Mais recentemente, a preocupação com as condições de trabalho dos profissionais da saúde tem adquirido maior expressão, sendo com frequência um terreno fértil para o combate político, mais do que para se avaliar o seu real impacto nos cuidados prestados.

Um trabalho publicado este mês no Jornal da American Medical Association (JAMA)* dedica-se a este assunto, reforçando que os médicos, no exercício da sua profissão, estabelecem um contrato com a sociedade comprometendo-se a exercer as suas funções de acordo com o melhor interesse dos pacientes.

Para que tal contrato possa ser respeitado, para lá do amor à profissão e da existência de instalações e equipamentos que permitam um atendimento de acordo com o estado-da-arte, é essencial que os médicos estejam bem, se sintam satisfeitos, sem sintomas de fadiga ou esgotamento e sem evidência de alterações tradutoras de depressão ou de ansiedade.

O exercício da actividade médica, como tantas outras, é uma fonte importante de stress que, neste caso específico, pode ter implicações em aspectos tão centrais como a capacidade de ouvir o paciente, de processar a informação clínica, de solicitar os exames mais adequados a cada caso, de aprofundar e discutir com os pares as situações clinicamente mais complexas, de se concentrar durante uma intervenção, de prescrever os fármacos mais indicados, entre tantos outros exemplos.

Os relatos de esgotamento, taxas elevadas de depressão e maior risco de suicídio são frequentes no que à profissão médica se refere e devem ser o motor para uma profunda reflexão sobre os factores causais, de modo a identificá-los e corrigi-los.

A insatisfação médica pode, portanto, causar insatisfação dos pacientes, administração de cuidados sub-óptimos, maior dificuldade de acesso aos cuidados de saúde e, até, aumento dos custos associados a esses cuidados.

O risco de erros de diagnóstico e de outros erros médicos tenderá a ser igualmente superior.

E mesmo que nada disto aconteça, ou seja, mesmo que um médico insatisfeito seja capaz de manter intocável a sua capacidade de diagnóstico e de tratamento, existirá sempre o risco do paciente associar a insatisfação do seu médico à prestação de cuidados inferiores e, como tal, quebrar-se o elemento essencial da relação médico-doente, a confiança, com consequente risco de não aderência às indicações veiculadas.

Falar em bem-estar médico não é, portanto, uma questão de capricho. Se os médicos se sentirem bem serão capazes de estabelecer ligações mais empáticas com os seus pacientes e tenderão a disponibilizar cuidados de saúde mais orientados e abrangentes. A responsabilidade pelo bem-estar dos médicos começa neles mesmos, no seu amor ao que fazem, mas as entidades governamentais e as organizações médicas têm igualmente o dever de criar as condições que possibilitem o desenvolvimento de um trabalho de qualidade.

Para o paciente, os estudos já realizados sugerem que não se trata somente de desejar que o médico não esteja deprimido, esgotado, com insónias ou dependente de álcool ou fármacos. Os pacientes gostam mesmo que os seus médicos se sintam satisfeitos com o seu trabalho.

Um paciente tenderá a não procurar um médico que se sinta insatisfeito porque as dúvidas que se irão colocar serão inúmeras e sempre incómodas: “Será que ele se vai importar comigo?”; “Será que me vai fazer sentir desconfortável?”; “Irá realizar-me uma observação correcta e pedir os exames de que realmente necessito?”; “O diagnóstico será correcto?”; “Irá o médico estar disponível para me contactar ou para ser contactado ao longo da minha recuperação?”. E, talvez, a mais importante de todas: “Posso confiar no meu médico?”…   

Num plano global, é importante perceber que, se a insatisfação dos médicos for generalizada pode assumir o estatuto de problema de saúde pública, dada a sua implicação na qualidade dos cuidados médicos globalmente prestados.

Os factores que podem gerar insatisfação dos médicos e diminuir o seu bem-estar são múltiplos: o vencimento, o número de horas de trabalho, o ritmo do trabalho, a cultura da organização, os incentivos oferecidos, os obstáculos de natureza administrativa e a própria percepção dos pacientes sobre os cuidados prestados. De facto, se os pacientes referem que a sua experiência numa Clínica ou Hospital não foi a esperada, os médicos ir-se-ão sentir afectados e insatisfeitos com essa avaliação.

Este é um tema inesgotável e que merece um debate mais aberto. O profissionalismo dos médicos assenta em duas vertentes: a actualização dos seus conhecimentos e competências e poderem colocar as necessidades dos seus doentes em primeiro lugar. Quando estes objectivos se tornam inalcançáveis, a frustração e a insatisfação emergem, afectando os cuidados prestados e iniciando todo um círculo vicioso.

Tudo isto é central para uma prática médica de excelência mas de difícil quantificação. Mesmo assim, é um tópico que merece a nossa atenção. Os estudos são escassos mas referem dados tão preocupantes como a “despersonalização dos pacientes”, que passam a ser encarados como objectos pelos médicos insatisfeitos. E isso é a negação da Medicina…

Mesmo sem evidência sólida, parece óbvio que um médico insatisfeito passará uma receita mais facilmente apenas para não ter de comunicar mais tempo com o seu paciente ou que, perante um caso menos óbvio, o referencie para um especialista em vez de tentar, por si próprio, orientar o processo de diagnóstico. Ou seja, médicos mais insatisfeitos prescrevem mais receitas e referenciam mais os seus doentes, o que se traduz, ente outras cosias, em mais custos.

Que fazer, então?

Em primeiro lugar, identificar as causas da insatisfação. Elas poderão ser pessoais ou institucionais e a abordagem será necessariamente diferente. Esta fase de “diagnóstico” deve passar muito por cada profissional, pela sua capacidade de se avaliar e de perceber o que não está bem, mas tem de envolver as chefias, as administrações e os governos.

Reduzir a insatisfação não tem, necessariamente, de ter custos ou de ser um processo complexo mas implica, por um lado, reconhecer a relevância do tema e, por outro, dedicar-lhe tempo.

Muito provavelmente, se esta análise for realizada com bom-senso e ponderação, permitirá resultados espantosamente interessantes e com benefícios transversais a toda a sociedade mas, sobretudo, para os doentes que, como sempre, são a razão de tudo o aqui se escreve.

 

* Larissa R. Thomas e col.,  Charter on Physician Well-being

JAMA. 2018;319(15):1541-1542. doi:10.1001/jama.2018.1331

Texto escrito na grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990, por opção do autor

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