Dos internamentos evitáveis aos internamentos sociais…
Há muitos indicadores e exemplos de como, em Portugal, a […]

Dos internamentos evitáveis aos internamentos sociais…

Há muitos indicadores e exemplos de como, em Portugal, a gestão do internamento hospitalar se afasta cada vez mais da média europeia em matérias como os custos ou os tempos de internamento. Em eficiência, claro, estando agora em volta dos 30% piores do que a Europa…

E portanto assim, facilmente se explica o continuado descontrolo financeiro das estruturas hospitalares, independentemente das ridículas transferências financeira depois “congeladas”…

Poderemos sempre invocar ou pactuar com argumentos, verdadeiros ou falsos, que nos ajudem a minorar a gravidade da situação ou, até cair na tentação dos discursos redondos e vazios que pretendem dar a ideia – suportada por uma comunicação social amigada ou domesticada – de que tudo vai bem melhor.

Estou a recordar razões como as da demografia (seja pelo envelhecimento, seja pela baixa da natalidade, ou até do aumento da sobrevivência das pessoas em Portugal), a da persistente falta de integração e continuidade de cuidados assistenciais entre hospitais e unidades de medicina geral e familiar, a da não promoção real de culturas de trabalho multidisciplinar ou da escassez de projectos de programação das altas no momento da admissão hospitalar, os se quisermos das clássicas questões das distâncias ou da acessibilidade, do suporte familiar, social ou económico, para concluir que para tudo – na Saúde – se justifica sempre de igual modo…

Na realidade, a única coisa que poderíamos aceitar é que, a tudo serem argumentos minimamente consistentes ou factuais, a obrigação de mudar os padrões de procura e utilização dos meios hospitalares já chega muito tarde!

E chega tarde por dois motivos: porque a vulnerabilidade das pessoas e das sociedades é que mais salienta a necessidade estratégica de integrar cuidados e níveis assistenciais e porque o desperdício acumulado coloca a sustentabilidade dos serviços públicos em causa!

Infelizmente, o Ministério da Saúde perde-se em outras prioridades, ainda por cima sempre avulsas e desordenadas e mediáticas, entretidas em criação de grupos e comissões de estudo, de trabalho e de missão que parecem uma avalancha incontrolada e inútil e, esforços de “simplex” informático para parolos se distraírem.

Compreender as necessidades das populações e das regiões que ocupam era um bom passo numa política inteligente de planeamento correcto. Os protocolos de diagnóstico e os processos terapêuticos, com partilha de decisões e de responsabilidades, melhoram a articulação de cuidados e consolidam a possibilidade de redução do número de atendimentos urgentes e de internamentos evitáveis. Sobretudo quando pensamos em doenças crónicas e em cronicidades associadas ao envelhecimento ou aumento de sobrevida por múltiplas condições patológicas.

Fechar camas de agudos para as transformar em camas de cuidados continuados, por exemplo, pode ser arriscado e até disparatado, se não ocorrer um estudo prévio sério e clinicamente sustentado.

Manter os hospitais atafulhados de pessoas que não preenchem qualquer requisito médico para se manterem internadas é uma vergonha.

Uma vergonha para o Estado, no limite.

É que a carência de camas, já conhecida e identificada, só se acentua e perpetua por esta via, sendo que as estimativas (dos administradores hospitalares) apontam para mais de 5% do total de internados por causas sociais, aos quais, o Estado e a Segurança Social, depois das famílias, não dão resposta nem escoamento.

O mais trágico é que, conforme dados apresentados em finais de 2017 na Conferencia de Valor APAH, realizada em Évora, a demora média por pessoa em relação a uma solução social que liberte essa cama hospitalar era de 67 dias. E na região de Lisboa e Vale do Tejo esse tempo de espera inútil, esse desperdício financeiro e público e esse risco acrescido de infecção hospitalar era ainda maior, acima dos 90 dias!

É caso para dizer que, a distância dos problemas ao Ministério da Saúde não apressa as soluções…

 

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