Cancro do ovário: rastreio pode ter mais prejuízos do que benefícios

Uma nova pesquisa sugere que as mulheres que não apresentam sintomas ou fatores de risco do cancro do ovário não se devem submeter ao rastreio, uma vez que este procedimento não afeta a mortalidade e pode levar a cirurgias desnecessárias.

O estudo foi elaborado pela US Preventive Services Task (USPSTF), que faz recomendações sobre a eficácia dos serviços específicos de cuidados preventivos para pacientes sem sinais ou sintomas óbvios. O objetivo desta investigação foi de atualizar as diretrizes publicadas pela entidade norte-americana, em 2004 e 2012, sobre a recomendação do rastreio. Os novos resultados foram divulgados no dia 13 de fevereiro na plataforma JAMA.

De forma a perceber se o processo de screening reduz o risco de mortalidade para mulheres que não apresentam o risco hereditário para esta doença, a USPSTF procurou examinar dados de estudos publicados entre 2003 e 2017. A maioria destas pesquisas incidia sobre ensaios clínicos de mulheres assintomáticas, rastreadas ou não, de idades superiores a 45 anos. Essa categoria ficou designada por “risco médio”.

Os pontos de interesse deste estudo incidiam na mortalidade, qualidade de vida, teste falso-positivo, cirurgia e complicações, e efeitos psicológicos do rastreio. Após a análise intensiva dos dados recolhidos, a equipa de investigadores concluiu que “a mortalidade no cancro do ovário não difere de forma significativa entre as mulheres rastreadas e mulheres não rastreadas”.

Contudo, os mesmos dados revelam que as desvantagens do screening incluem a cirurgia e que esta pode gerar complicações para mulheres que não têm cancro. Face a estas conclusões a USPSTF concluí com uma “certeza moderada” que há mais inconvenientes e potenciais danos no rastreamento do cancro do ovário do que benefícios e, como tal, não recomenda este procedimento a mulheres que se insiram na categoria do “risco médio”.

A Drª Stephanie V. Blank, professora de ginecologia oncológica no Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Ciências Reprodutivas na Icahn School of Medicine, em Nova Iorque, comentou estes resultados, citada no site da MedicalNewsToday, afirmando que “concordo que as mulheres que não têm um elevado risco genético para o cancro do ovário não devem seguir com o rastreamento, uma vez que não temos um teste de rastreio eficaz”.  Ainda assim, a especialista alerta que uma mulher deve ter conhecimento dos principais sintomas do cancro do ovário e reforça que face à presença dos mesmos deve “exigir ser testada”.

Em 2017, a par do Dia Mundial do Cancro do Ovário, foi divulgado que, em Portugal, o cancro do ovário é o nono cancro mais comum nas mulheres e o oitavo mais mortal, com uma média de mortes de 380 mulheres por ano. Os mesmos especialistas alertaram para a pouca especificidade da sintomatologia desta neoplasia, muitas vezes confundida com alterações naturais do organismo. Inchaço, perda de apetite, dor pélvica ou abdominal e alterações urinárias estão entre os sintomas mais comuns.

So/Mónica Silva

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