6 Fev, 2018

OMS alerta para desigualdades no financiamento da investigação

O Observatório Global de Investigação e Desenvolvimento da Organização Mundial de Saúde detetou desigualdades no financiamento em investigação e alerta que decisões não podem caber aos mercados.

“É vital garantir que a tomada de decisões sobre quais as doenças, países e produtos recebem financiamento não dependa na íntegra das forças de mercado”, lê-se num relatório deste observatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado este mês.

A organização recorda o surto de ébola em 2014, na África ocidental, para frisar que os mais de 11 mil mortos provocados pela doença na altura “expuseram de forma dramática a falta de investimento em produtos e abordagens para prevenir e minimizar o impacto de patogénicos com potencial epidémico” e que a falta de investimento em investigação em novos antibióticos é a causa da “preocupação global” com o aumento da resistência a estes medicamentos.

Segundo a OMS as desigualdades no investimento em investigação e desenvolvimento demonstram frequentemente falhas na relação entre o peso e importância das doenças e o nível de atividade de investigação.

Os dados recolhidos pelo observatório em 60 países revelam, por exemplo, que os países mais ricos têm 40 vezes mais investigadores na área de saúde do que os países mais pobres, com 1.140 investigadores por cada milhão de habitantes em Singapura contra 0,2 investigadores por cada milhão de habitantes no Zimbabué, por exemplo.

O relatório refere ainda desigualdades de género, com as mulheres a representarem 51% dos investigadores nos países mais ricos e apenas 27% nos países pobres.

Portugal integra o grupo dos países mais ricos analisados pela OMS, registando 424 investigadores em saúde em 2014 por cada milhão de habitantes, 63% dos quais mulheres, acima da média dos países mais ricos.

Nesta lista Portugal aparece colocado em 4.º lugar, abaixo da Grécia com 463 investigadores por cada milhão de habitantes, mas já muito distante da Holanda, com 727 investigadores, ou de Singapura, com 1.140.

O observatório aponta ainda que apenas 1% de todo o financiamento para investigação e desenvolvimento em doenças está destinado a malária e tuberculose, apesar de estas terem um impacto de 12,5% em termos de doenças no mundo.

São os governos os principais financiadores da investigação em doenças negligenciadas, com as suas contribuições a representarem dois terços do investimento, seguindo-se as doações de filantropos.

Em 2016 o investimento mundial na investigação para as doenças negligenciadas (que incluem HIV/Sida, tuberculose, malária, dengue, entre outras) fixou-se num valor próximo dos 2,58 mil milhões de euros, com os Estados Unidos a serem o país que mais contribui para a investigação nesta área, com um financiamento de quase 17 milhões de euros em 2016.

Portugal aparece entre o grupo de países que investiu menos de um milhão de dólares, com um valor total de cerca de 320 mil euros aplicados na investigação destas doenças em 2016.

55,77% dessa verba foi entregue pela Fundação para a Ciência e Tecnologia para um consórcio europeu de ensaios clínicos, e o restante, com origem filantrópica na Fundação Calouste Gulbenkian, foi direcionado para a investigação de uma vacina para a tuberculose.

O relatório do observatório da OMS aponta ainda “sérios desequilíbrios nos fluxos de financiamento” em países com níveis de pobreza e necessidades de saúde comparáveis, que recebem níveis de assistência oficial ao desenvolvimento “surpreendentemente diferentes” para investigação e setores de saúde básicos.

Entre os países de mais baixos rendimentos a OMS destaca a Libéria, que recebeu em 2016 o maior valor de assistência oficial ao desenvolvimento ‘per capita’ que os países em situações comparáveis – por exemplo, um valor 3,5 vezes superior ao entregue a Madagáscar, que sofreu nesse ano um surto sério de pneumonia.

LUSA/SO

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