23 Jan, 2018

Ordem dos Enfermeiros denuncia falta de profissionais na Misericórdia de Angra do Heroísmo

A Ordem dos Enfermeiros nos Açores alertou hoje para a alegada falta de enfermeiros na Misericórdia de Angra do Heroísmo e que isso está a afetar a qualidade dos cuidados prestados, mas o provedor da instituição nega.

“É necessário um reforço do número de enfermeiros [na Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo] e essa carência está a ter implicações nos cuidados de enfermagem prestados à população institucionalizada”, disse à agência Lusa o presidente da secção regional dos Açores da Ordem dos Enfermeiros, Luís Furtado.

Na sequência de uma visita à instituição, na ilha Terceira, a Ordem dos Enfermeiros apontou, em comunicado, várias “irregularidades”, o que “não caiu bem” à mesa administrativa da Santa Casa de Angra do Heroísmo, admitiu o provedor da instituição.

Pelas contas da Ordem, a instituição deveria ter, no mínimo, 32 enfermeiros, 16 no lar, que tem 150 utentes, e 16 na unidade de cuidados continuados integrados, que tem 35 utentes.

No entanto, Bento Barcelos, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo, alega que os rácios de enfermeiros das duas valências estão “de acordo com a legislação”, já que no lar eram exigidos apenas seis enfermeiros e a instituição tem dez e um estagiário e na unidade de cuidados continuados integrados era exigida a presença de oito enfermeiros, estando em funções dez e um estagiário.

“Tudo na vida tem a sua racionalidade e nós temos de ter em conta os recursos humanos, materiais e financeiros”, considerou.

No início deste ano, foi feita uma alteração no turno da noite, que passou de quatro para dois enfermeiros (um para cada valência), o que para Luís Furtado não é “aceitável”.

“Temos 185 doentes para dois enfermeiros, divididos por quatro pisos e dois serviços diferentes. São condições terceiro-mundistas”, salientou, acrescentando que “mais de metade dos utentes está totalmente dependente” e que, aos fins de semana e feriados, o turno da manhã no lar é assegurado por apenas dois enfermeiros.

Segundo o provedor, que realçou que a alteração “é reversível”, a decisão foi tomada no sentido de reforçar o turno das 08:00 às 16:00, em que há mais cuidados de enfermagem a prestar, e tendo em conta que existiam, durante a noite, “muitas pausas, que não exigiam a necessidade de quatro enfermeiros”.

Entre as “irregularidades” que disse ter detetado, o presidente da secção regional dos Açores da Ordem dos Enfermeiros destacou a distribuição e administração de medicação por pessoal auxiliar.

“Não é admissível que essa administração seja feita por pessoal não qualificado. Estamos a colocar as vidas daquelas pessoas em risco”, frisou, alegando que os enfermeiros validam a prescrição e avaliam o estado dos utentes antes e depois da toma do fármaco.

Por outro lado, Luís Furtado salientou que “13,3% dos utentes desenvolve úlceras de pressão”, sublinhando que não há enfermeiros suficientes para fazer o planeamento dos cuidados e da alternância de posicionamento dos utentes acamados.

De acordo com o representante da Ordem dos Enfermeiros nos Açores, a Inspeção Regional da Saúde já tinha identificado uma “insuficiência de enfermeiros” e “falhas nos procedimentos de distribuição e administração de fármacos”.

O provedor, que disse não ter tido acesso ao relatório da Inspeção Regional de Saúde, alegou que, apesar de nem sempre o enfermeiro estar presente na altura da toma da medição, “é feita uma supervisão por parte da enfermagem”.

“É uma questão que não está fechada. Estamos a trabalhar no sentido de encontrar um esquema para que a passagem do enfermeiro coincida com o momento da toma da medicação”, adiantou.

Bento Barcelos acusou ainda a secção regional da Ordem dos Enfermeiros de procurar “protagonismo mediático”, ao “levantar suspeitas” de que não estão a ser prestados os cuidados adequados na instituição, junto da comunidade, em vez de enviar um relatório da visita à mesa administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo.

Lusa/SO

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