Especialistas de várias áreas reúnem-se para discutir doenças imunomediadas em idade pediátrica

Realizou-se em novembro a segunda edição do Connecting Kids Care, a única reunião em Portugal destinada aos especialistas em doenças imunomediadas em idade pediátrica. Eduardo Ribeiro, diretor médico da AbbVie Portugal fala-nos um pouco mais sobre a reunião e as abordagens a seguir quanto ao tratamento destas crianças.

O encontro, que contou com um painel de 13 especialistas de referência nas áreas da Dermatologia, Reumatologia, Gastrenterologia e Oftalmologia, promoveu a discussão sobre o estado da arte nas doenças imunomediadas em idade pediátrica, como a doença de crohn, a artrite idiopática juvenil, a psoríase e a hidradenite supurativa, tendo permitido fortalecer a integração e a multidisciplinaridade entre diferentes áreas.

SaúdeOnline | Qual é o panorama português no que toca a doenças imunomediadas em idade pediátrica?

Eduardo Ribeiro | Infelizmente para muitas destas doenças não existem dados epidemiológicos nacionais robustos e que traduzam a prevalência e incidência em idade pediátrica. É por isso muito difícil falar em números que possam fazer o retrato global das doenças imunomediadas em idade pediátrica em Portugal.

O que sabemos é que este grupo de doenças tem um enorme impacto na criança e no adolescente, na sua vida pessoal, familiar e social, e também na dos seus familiares. As doenças imunomediadas afetam frequentemente crianças e adolescentes, trazendo grandes limitações às suas vidas, com obrigatoriedade de consultas, internamentos e terapêutica e que muitas vezes levam ao absentismo escolar.

SO | Como surgiu o Connecting Kids Care e qual é o seu propósito?

ER | Na AbbVie temos como missão encontrar e disponibilizar soluções terapêuticas que tenham um impacto notável na vida das pessoas, em várias áreas terapêuticas, em que a pediatria não é exceção. A área pediátrica tem sido, de facto, uma das grandes apostas da companhia. Queremos contribuir para a mudança de forma positiva da vida das crianças afetadas pelas doenças imunomediadas, bem como a dos seus familiares e cuidadores.

Seja em que área for, fazemos questão de trabalhar sempre em parceria com os profissionais de saúde. Com este pressuposto, surgiu a necessidade de encontrar uma iniciativa que pudesse juntar os profissionais de saúde, das mais diversas especialidades, em torno das doenças imunomediadas em idade pediátrica.

Foi assim que nasceu o Connecting Kids Care, a primeira reunião nacional dedicada a este tema e que vai já na sua segunda edição. Este encontro é um excelente exemplo de atividade formativa, construída em estreita colaboração com os profissionais de saúde e que tem permitido a discussão de temas cruciais para a pediatria entre diferentes especialidades. É também um excelente exemplo de promoção da multidisciplinaridade, uma vez que este ano aos especialistas em Pediatria, Reumatologia, Gastrenterologia e Dermatologia, se juntou a Oftalmologia.

O Connecting Kids Care foi, uma vez mais, um enorme sucesso e, por essa razão, estamos já a trabalhar naquela que será a sua terceira edição. Trata-se de um projeto muito acarinhado pela companhia e que tem recebido um feedback muito positivo por parte dos profissionais de saúde que têm marcado presença neste encontro.

SO | Qual é a importância da abordagem multidisciplinar no diagnóstico e no tratamento nesta área?

 ER | A abordagem multidisciplinar é fundamental nas doenças crónicas, antes de mais, numa perspetiva clínica. No caso das doenças imunomediadas são muito frequentes as situações em que, por exemplo, perante uma doença do foro gastrenterológico surgem sinais ou sintomas de outros aparelhos e sistemas que não o digestivo.

Este exemplo mostra o papel que o diálogo e a interação entre especialidades podem desempenhar: permitem compreender melhor os quadros clínicos, antecipar e resolver problemas da prática clínica, facilitar o acesso às diferentes subespecialidades e a um tratamento adequado mais atempadamente. Em suma, o trabalho em conjunto das várias especialidades médicas, de acordo com as necessidades do doente, tem um único e mesmo objetivo: garantir a melhor gestão da doença.

Mas a abordagem multidisciplinar vai mais longe. Não deve envolver apenas os aspetos clínicos, mas também as repercussões psicológicas e sociais, tanto para a criança, como para a família. Sabemos que uma relação pautada por uma boa comunicação entre a criança, a sua família e a equipa médica é essencial para a tomada de consciência sobre a extensão e gravidade da doença.

O objetivo de todos os intervenientes será sempre que a doença crónica tenha o menor impacto possível na vida da criança, na sua vida pessoal, familiar e social, diminuindo sentimentos de medo, insegurança e dor.

A multidisciplinaridade tem vantagens inquestionáveis, uma vez que permite uma abordagem mais global do doente e uma resposta terapêutica mais assertiva e rápida. É por considerá-la tão importante que a AbbVie reúne esforços para promover iniciativas como o Connecting Kids Care para promover a discussão entre as diversas áreas terapêuticas com o intuito de fortalecer a integração e a multidisciplinaridade entre estas.

SO | Um dos assuntos abordados foi a terapêtutica Treat to Target. No que consiste?

 ER | Podemos dizer que Treat to Target consiste, no fundo, num tratamento por objetivos com monitorização frequente dos doentes. Trata-se de uma estratégia de tratamento em que o médico trata o doente de forma a alcançar e manter determinado objetivo, previamente estabelecido, que deverá ser a remissão ou baixa atividade da doença.

É um conceito que tem vindo a ser reforçado porque avanços recentes na gestão de algumas doenças, como por exemplo a artrite reumatóide, mostram que a remissão é um objetivo alcançável em muitos, dos doentes, com melhoria dos resultados clínicos.

SO | Mas o tema “quente” prendeu-se com a transição destas crianças para a consulta do adulto. Quais são os desafios?

 ER | Apesar de a pertinência da transição para a consulta do adulto ser reconhecida, não existe uniformidade nas formas de atuação. Uma barreira que pode condicionar o sucesso do trabalho iniciado na idade pediátrica e que se pretende que seja continuado na idade adulta.

A passagem do adolescente com doença crónica para a consulta do adulto representa um importante momento de transição, simultaneamente o fim de uma etapa e o início de uma nova. A forma como essa passagem é feita influencia diretamente a saúde e o bem-estar do doente e o próprio tratamento da sua doença e merece, por isso, uma especial atenção.

A transição para a consulta do adulto constitui assim um verdadeiro desafio. É fundamental organizar atempadamente a passagem para os cuidados de adulto uma vez que existem evidências claras de que este tipo de cuidados é mais adequado e que a evolução da doença é mais favorável quando o doente passa por um programa de transição para a consulta do adulto.

A reunião do Connecting Kids Care serviu para discutir a importância de uma implementação estruturada de consultas de transição, bem como a formação e sensibilização para a colaboração dos médicos envolvidos, de forma a garantir os cuidados, a autonomia e o bem-estar do adolescente com doença crónica.

 SO | Quais são as apostas da AbbVie Portugal na área da pediatria?

 ER | A aposta na pesquisa e desenvolvimento de soluções de tratamento para necessidades ainda não preenchidas na população pediátrica são para a AbbVie uma prioridade. Queremos continuar a disponibilizar aos profissionais de saúde ferramentas que possam ajudar a minimizar os danos que estas doenças podem ter no desenvolvimento físico e emocional das crianças.

É por isso importante para nós conseguir trazer para Portugal todos os possíveis ensaios clínicos em idade pediátrica, já que estes constituem não só um contributo social, mas também uma forma de melhorar a prestação dos cuidados de saúde a esta população especial, para além de responderem às questões em investigação.

SO/Sara Fernandes

 

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