16 Jun, 2017

A demência é um problema que não se deve esconder das crianças

A demência explicada às crianças é o tema de um projeto que está a percorrer as escolas do Nordeste Transmontano para mostrar que, em vez de esconder, sensibilizar os mais novos pode ajudar

O promotor é o Gabinete de Alzheimer de Mirandela, o único no distrito de Bragança que presta apoio a doentes e cuidadores que quer combater a ideia de que a demência é um problema que se deve esconder das crianças.

“Nós achamos exatamente o contrário. As crianças devem ser tidas no processo, até porque, às vezes, o doente está mais recetivo ao que lhe diz o neto, por exemplo, do que um adulto”, concretizou à Lusa Marisa Fernandes, a responsável pelo Gabinete.

Este espaço de apoio surgiu da iniciativa de Marisa Fernandes que foi confrontada com a doença na família e com a falta de respostas. Em parceria com a Associação Alzheimer Portugal, o gabinete sedeado em Mirandela presta apoio a doentes e cuidadores de toda a região e funciona em regime de voluntariado.

Desde a abertura que, segundo contou Marisa Fernandes, notam entre os que lhe pedem ajuda, que a demência “é sempre um processo muito perturbador, as famílias sofrem muito e o sofrimento estende-se às crianças”.

A tendência é a de as famílias esconderem dos mais novos a doença, mas Marisa Fernandes entende que não deve ser assim.

“Eles podem ajudar. O que queremos é passar-lhe esta ideia: se tens um avô que está doente, temos de o ajudar. Não podemos dizer que o avô é maluquinho e faz asneiras”, defendeu.

A equipa do Gabinete de Alzheimer de Mirandela começou a trabalhar com as crianças do quarto ano do primeiro ciclo com a ajuda do livro “O pequeno elefante Memo” editado pela Alzheimer Portugal.

Este ano decidiram trabalhar com os finalistas do pré-escolar e escolheram o apoio da Patrulha Pata, que tem como missão ajudar alguém em apuros.

A iniciativa envolve jogos e material que pode ser trabalhado com os pais e a família em casa.

“Queremos que as nossas crianças percebam, que aprendam a identificar sinais da doença e que se virem comportamentos suspeitos, elas mesmas alertem”, indicou.

O projeto já passou por escolas de Mirandela, Vila Flor, e já tem pedidos para Murça e Valpaços, no distrito de Vila Real, e agendada uma ida às escolas de Vimioso, em setembro.

Durante as férias letivas, nos meses de verão, “a demência explicada às crianças” vai ao ATL (programas de ocupação dos tempos livres) de Mirandela.

O Gabinete de Alzheimer de Mirandela está a funcionar há três anos, período durante o qual atendeu diretamente cerca de meia centena de doentes ou familiares.

Marisa Fernandes ressalvou, contudo que muito do trabalho é feita em contactos telefónicos que chegam de todo o distrito de Bragança e não apenas de Mirandela.

Sem este gabinete, o apoio do género mais próximo que existiria para doentes e famílias desta região fica no Porto.

O gabinete funciona em regime de voluntariado, mas a responsável garante que “as necessidades já justificavam uma atividade mais formal”.

A equipa é composta por voluntários em diferentes áreas como enfermagem, farmacêutica, psicologia, assistente social em contacto com outros profissionais, nomeadamente médicos neurologistas, a especialidade que acompanha a demência.

Além do apoio direto, o gabinete promove também outras iniciativas como seminários sobre temas relacionados com esta problemática.

LUSA/SO/CS

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