9 Mar, 2017

Pé Diabético – O essencial passa pela prevenção

A educação do doente, aliada ao rastreio sistemático do pé diabético diminuiu o número de amputações, obtendo-se ganhos em saúde e melhoria da qualidade de vida do doente com Diabetes

Diana Rocha, Médica Interna de Medicina Geral e Familiar na USF Sete Caminhos – ACES Gondomar

Dra Diana Rocha

A prevalência da Diabetes Mellitus em Portugal é elevada, tendo-se constituído ao longo dos anos como uma pandemia em constante crescimento. Esta doença manifesta-se a nível dos vários órgãos e sistemas do nosso organismo com repercussões que podem ser graves e muitas vezes irreversíveis quando já numa fase avançada da doença, ou quando a doença se estabelece desde há vários anos.

O pé diabético é uma das complicações mais graves da Diabetes, sendo responsável por cerca de 70% de todas as amputações. O risco de um doente diabético desenvolver uma lesão associada ao pé diabético é de 25% durante toda a vida; desta forma, a aposta nos cuidados preventivos torna-se essencial.

O QUE É O PÉ DIABÉTICO E COMO SE MANIFESTA?

As lesões do pé diabético são uma causa significativa de morbilidade e representam a principal causa de hospitalização em diabéticos. De todas as complicações que podem surgir associadas a esta doença, as lesões do pé diabético são provavelmente as mais preveníveis.

O pé diabético define-se como sendo o pé do doente diabético com ulceração, infeção ou destruição dos tecidos profundos; as causas resultam da associação entre: alterações da sensibilidade local, pele seca e quebradiça, deformação do pé com surgimento de áreas de maior pressão, atrofia dos músculos locais e vários graus de doença vascular periférica desde sensação dolorosa que surge em esforço até ao surgimento de dor em repouso.

O pé diabético pode originar 3 tipos de lesões principais: úlcera, infeção e pé de Charcot (deformação da arquitetura normal do pé). As úlceras são normalmente consequentes de traumatismos mínimos que o doente não sente e que por permanecerem sem tratamento, atingem os tecidos mais profundos e, se infetar, podem originar gangrena, conduzindo à necessidade de amputação. A lesão mais comum do pé diabético é a úlcera do pé diabético infetada.

FATORES DE RISCO:

As complicações do pé diabético são mais comuns em homens e após os 60 anos. Outros fatores de risco correspondem:

Fatores Locais

– Alterações da sensibilidade local
– Deformação do pé
– Traumatismos repetidos sobre o pé
– Calosidades
– Calçado
inapropriado
– História de úlceras anteriores

Fatores Individuais e da Doença

– Mau controlo dos valores de glicose (açúcar no sangue)
– Diabetes de longa duração
– Tabagismo
– Doença renal
– Alterações da visão

AVALIAÇÃO POR MÉDICO/ENFERMEIRO:

Todos os diabéticos devem ser avaliados anualmente com o objetivo de serem identificados fatores de risco para lesões dos pés.

O exame clínico dos pés permite a sua classificação em categorias de risco de ulceração: baixo risco, médio risco e alto risco, que irão determinar a periodicidade de vigilância: anual, semestral ou a cada 1 a 3 meses respetivamente.

MEDIDAS PREVENTIVAS:

O conhecimento por parte dos diabéticos e dos seus familiares, dos cuidados a ter com os pés é essencial, permitindo evitar e reduzir o surgimento de lesões e atuar precocemente nos casos identificados. Assim, aconselha-se:

• Manter o peso adequado
• Não fumar
• Realizar exercício físico regularmente
• Controlo rigoroso dos valores de glicose
• Observação diária e cuidados dos pés:
– Higiene diária, com secagem adequada dos pés e entre os dedos, avaliar a presença de lesões traumáticas, sinais inflamatórios ou infeciosos.
– O corte das unhas deve ser cuidadoso e em linha reta, afastado da pele.
– Manter a pele hidratada prevenindo a fissuração.
• Sapatos:
– São a causa mais frequente de lesão do Pé Diabético, podendo originar úlceras sobretudo nos dedos, por pressão de encarceramento. Recomenda-se que o sapato adequado deve:
– Ter espaço para os dedos, isto é, o sapato deve medir mais um centímetro para além do dedo mais comprido;
– Deve ser suficientemente alto e amplo na ponta;
– A altura do tacão não deve ultrapassar dois centímetros;
– O calcanhar do sapato deve ser firme e o seu dorso deve ser alto;
– Deve apertar com cordões ou velcro, contendo o pé, sem deslizamentos durante a marcha;
– Ser fundo e possuir palmilha amovível, que possa ser substituída, caso necessário, por outra individualizada e corretora das pressões excessivas a nível plantar, muito responsáveis pelo aparecimento de calosidades e ulceração.
• Remoção de calosidades:
– A melhor abordagem face aos calos é a utilização cuidadosa de uma pedra-pomes em pele molhada. Não devem ser cortados nem é aconselhável a utilização de químicos.
• Meias:
– Sem costuras e devem ser de material absorvente.
• Evite andar descalço

TRATAMENTO DAS LESÕES DO PÉ DIABÉTICO:

• Lesões não ulceradas:
A pele seca, as calosidades, as alterações da pele e das unhas devem ser sempre tratadas e controladas recorrendo a profissionais de saúde. Os fatores de risco deverão ser identificados e sempre que possível evitados ou minorados.

• Lesões ulceradas:
Devem ser sempre alvo de tratamento por equipas de profissionais de saúde qualificados.
Nas úlceras plantares, o alívio da pressão é essencial e torna-se prioritário evitar e/ou controlar o surgimento de infeção. O desbridamento cirúrgico e o tratamento médico, nomeadamente com antibiótico, poderão ser necessários.
Um bom controlo dos valores de glicose é essencial para a cicatrização das úlceras.
Pode ser necessária a referenciação para consulta hospitalar especializada, permitindo um tratamento mais dirigido.

 

 

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