21 Fev, 2017

Proteína associada à dislexia pode atuar na regeneração do tecido nervoso

Uma vez identificados os genes que regulam o crescimento axonal, procura-se verificar como é que estes e as proteínas que eles codificam agem, com o propósito de completar o "puzzle" de acontecimentos bioquímicos que são afectados por cada um desses genes

Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) descobriram que uma proteína associada à dislexia pode atuar no desenvolvimento dos neurónios e na regeneração do tecido nervoso.

O trabalho, publicado na revista científica “Cerebral Cortex”, mostra que a proteína KIAA0319 “é muito importante na regulação do crescimento dos axónios (prolongamento que liga um neurónio a outro)” e que, conseguindo-se “diminuir os seus níveis”, é possível “aumentar a capacidade regenerativa do tecido nervoso”, disse a investigadora líder do projeto, Mónica Sousa.

A equipa recorreu a trabalhos “in vitro” e “in vivo”, com ratos, nos quais comprovou que a KIAA0319, quando recebe um sinal, desencadeia uma série de acontecimetos com efeitos claros no desenvolvimento dos neurónios, incluindo o crescimento e a orientação.

Ou seja, “a presença desta proteína e a sua quantidade nos neurónios determina o efeito que um sinal pode ter quando chega à célula”, pode ler-se num comunicado.

A dislexia está associada a baixos níveis de KIAA0319, devido a um tipo de erro que ocorre durante o desenvolvimento embrionário, e que se manifesta quando as crianças começam a ler.

Em doenças deste género, os profissionais sequenciam o genoma de indivíduos normais e comparam-no com o genoma de indivíduos disléxicos, para se descobrir uma porção deste material genético que esteja alterada.

Existem outros genes que explicam a dislexia, como o ROBO1 E O DCDC2.

Quanto ao ROBO1, “já se demonstrou que tem uma forma de ação muito similar à descrita agora para o KIAA0319”, estando ambos “sub-expressos nos casos de dislexia e, quando sobre-expressos, reduzem o crescimento dos axónios”, lê-se na nota informativa.

Estes resultados “permitem descrever o conjunto de acontecimentos dentro dos neurónios, que são dependentes da proteína expressa pelo gene KIAA0319 e dos sinais que ela recebe do meio circundante, permitindo desenhar um mapa de moléculas que interagem entre si para que os neurónios se desenvolvam ou não”, afirmou Mónica Sousa.

O objetivo principal da equipa é abrir novos caminhos para a regeneração do tecido nervoso. No futuro, pretendem encontrar “uma solução eficaz e segura”, “capaz de inibir a proteína”, podendo ser utilizada como uma opção de tratamento em situações onde seja necessário aumentar o crescimento axonal, como as lesões severas.

O projeto conta com a colaboração de profissionais da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e é financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

LUSA/SO

 

Gedeon Richter

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