16 Nov, 2016

PR: “É importante deixar espaço para a experimentação, para o erro”

Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu ontem, numa intervenção na cerimónia de entrega dos Prémios Pfizer de Investigação 2016, que "é importante deixar espaço para a experimentação, para o erro", porque tal "faz parte do processo evolutivo" da sociedade

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu ontem, na cerimónia de entrega dos Prémios Pfizer de Investigação 2016, que “é importante deixar espaço para a experimentação, para o erro”, porque tal “faz parte do processo evolutivo” da sociedade.

“Há uma prática que permanece, a fé que temos em Portugal”, sustentou, salientando a necessidade de “olhos postos no futuro”, da “conjugação do novo com o inovador”, da “inquietação, da pesquisa”.

Na saúde, apontou, “é essencial ter paixão pelas pessoas”.

Na sua intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa evocou o pai, Baltazar Rebelo de Sousa, subsecretário de Estado da Educação, no Estado Novo, que entregou os Prémios Pfizer 1958, para assinalar que “a vontade de acreditar em Portugal” vai “para lá dos regimes” políticos.

Os Prémios Pfizer de Investigação, promovidos anualmente pela farmacêutica Pfizer e pela Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, são concedidos nas categorias de “investigação básica” e “investigação clínica”, e têm, cada um, o valor de 20 mil euros.

Uma equipa de investigadores liderada pelo investigador Henrique Veiga-Fernandes, do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa, foi distinguida com o Prémio de Investigação Básica, pelo estudo sobre a imunidade do intestino, enquanto o grupo do gastrenterologista Pedro Pimentel Nunes, do Instituto Português de Oncologia do Porto, recebeu o Prémio de Investigação Clínica, pela avaliação da eficácia do uso de uma nova tecnologia na deteção precoce de cancro gástrico.

Num estudo publicado em julho na revista Nature, a equipa de Henrique Veiga-Fernandes identificou, numa experiência com ratinhos, uma ‘troika’ celular regulada pelo sistema nervoso, “que define a saúde do intestino e controla a inflamação intestinal”.

Para os cientistas, os resultados poderão ser promissores para o desenvolvimento de novas estratégias de prevenção e tratamento contra a inflamação intestinal crónica, como a doença de Crohn ou a colite ulcerosa, e até contra o cancro intestinal.

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A ‘troika’ celular é formada por células da glia (células do sistema nervoso), linfócitos inatos intestinais (células de defesa do intestino contra agressões) e epitélio intestinal (tecido celular de revestimento do intestino), protegendo o intestino contra infeções bacterianas e inflamações.

Segundo Henrique Veiga-Fernandes, as células da glia recebem “sinais do intestino e dão instruções ao sistema imunitário para reparar danos”.

O trabalho identificou a expressão de uma proteína, a RET, pelos linfócitos inatos intestinais, que é “essencial para a proteção das mucosas e regulação da inflamação intestinal”.

A proteína controla a produção, pelos linfócitos, de uma molécula, a Interleucina-22, que, de acordo com o investigador português, é importante para reparar a parede (o epitélio) do intestino.

A RET, que também existe à superfície das células nervosas do intestino, funciona como um interruptor que, quando ligado, defende o intestino de agentes agressores.

As células da glia, próximas dos linfócitos inatos, ligam o ‘interruptor’ RET após detetarem “sinais produzidos pelas bactérias ou emitidos por qualquer célula em ‘apuros'”.

Já grupo de Pedro Pimentel Nunes concluiu que o uso da endoscopia (exame que permite visualizar o esófago, o estômago…) com imagens de banda estreita NBI (Narrow-band imaging) pode aumentar a deteção precoce do cancro gástrico.

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A tecnologia NBI, que está ao alcance de um toque no botão do endoscópio (instrumento utilizado nas endoscopias), “aplica um filtro de luz que realça o padrão mucoso e vascular”, precisa uma nota à imprensa da organização dos Prémios Pfizer.

O trabalho distinguido com o Prémio Pfizer de Investigação Clínica testou a eficácia da endoscopia com NBI no diagnóstico de lesões pré-malignas gástricas em Portugal, Itália, Roménia, Reino Unido e Estados Unidos, a partir de uma amostra de 238 doentes e 1.123 biópsias endoscópicas.

A equipa internacional, liderada pelo gastrenterologista Pedro Pimentel Nunes, comprovou que o uso da tecnologia NBI “permitiria o diagnóstico de condições pré-malignas com 98 por cento de certeza”, sendo que “a sua utilização, por rotina, pode aumentar a deteção precoce do cancro gástrico”.

Considerados como a mais antiga distinção na investigação biomédica em Portugal, os Prémios Pfizer, que este ano completam 60 anos, foram já concedidos a mais de 600 investigadores.

Os galardões premeiam estudos realizados, total ou parcialmente, em instituições portuguesas, por investigadores nacionais ou estrangeiros.

A farmacêutica Pfizer financia os prémios e a Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa determina a composição do júri, que avalia as candidaturas e escolhe os galardoados.

Na sua intervenção Marcelo Rebelo de Sousa  disse, em jeito de brincadeira, que ficou agradado por os trabalhos premiados estarem relacionados com a área de gastrenterologia, uma vez que sofre de um problema gástrico desde os 14 anos.

 

SO/LUSA

 

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