Extrato de Cistus incanus revela potente atividade antiviral contra VIH e Ébola

Uma equipa de cientistas alemães descobriu que extratos de Cistus incanus, uma planta medicinal utilizada em Portugal e em quase toda a região mediterrânica desde a antiguidade, consegue impedir que o VIH infete células humanas

Cientistas do Centro Helmholtz, de Munique, descobriram que extratos de Cistus incanus, uma planta medicinal utilizada em Portugal e em quase toda a região mediterrânica desde a antiguidade para tratar diversas infeções, doenças circulatórias, diarreia, entre muitas outras indicações, consegue impedir que o VIH infete células humanas. De acordo com os dados publicados no apêndice “Scientific Reports” da revista Nature, a planta, comum em Portugal, conhecida como cistrosa ou cistácea, revelou ainda forte ação antiviral contra os vírus Ébola e Marburg.

O estudo, realizado por uma equipa de investigadores, liderada pela professora Ruth Brack-Werner e pela Dra. Stephanie Rebensburg, do Instituto de Virologia (VIRO) do Centro Helmholtz de Munique, demonstrou que os extratos da planta medicinal ataca partículas virais do VIH e do Ébola, impedindo-os de se multiplicarem, em culturas celulares.

HIV: ampla atividades, nenhuma resistência

A equipa de Brack-Werner descobriu que os extratos de Cistus incanus apresentam uma potente atividade contra um largo espetro de isolados de VIH1 e VIH2. Uma ação que se verificou, também, numa extirpe do VIH resistente à maioria dos antivirais disponíveis.

“As substâncias antivirais presentes em extratos de Cistus incanus tomam como alvo a membrana lipídica (envelope viral) de partículas infeciosas, impedindo-as de contatarem com as células hospedeiras”, explica a professora Brack-Werner.
Não foram detetadas resistências virais ao longo do tratamento de longo termo (24 semanas) com extrato de Cistus incanus, o que indica que as substâncias presentes na planta conseguem combater a replicação viral sem que ocorra superveniência de extirpes resistentes.

O estudo sugere ainda que a comercialização de extratos de plantas como a Cistus incanus e outras, como a Pelargonium sidoides, que também revelou propriedades antivirais em diversos estudos já realizados, constitui uma base de trabalho promissora para o desenvolvimento de fitoterapias antivirais validadas cientificamente. “Uma vez que o mecanismo de ação dos extratos de Cistus icanus diferem dos de todos os medicamentos aprovados, os derivados da planta poderão constituir um importante complemento aos regimes antivirais atualmente seguidos”, afirma Ruth Brack-Werner…. Para além de que, acrescenta, “ficou demonstrada atividades antiviral da planta em proteínas de partículas virais dos vírus Ébola e do Marburg”.

A análise dos componentes do extrato revelaram a presença de múltiplas substâncias antivirais que poderão atuar combinadas. Estes resultados estabelecem de forma consistente a atividade antiviral de extratos de Cistus icanus contra alguns dos mais relevantes patogénos humanos, incluindo viroses gripais.

O potencial no controlo de infeções virais letais

Segundo os investigadores, o desenvolvimento dos extratos destas plantas poderá contribuir de várias formas para o tratamento e controlo de diversas infeções virais. Outra aplicação possível é o desenvolvimento de cremes ou gel (eg: microbicidas) destinados a prevenir a transmissão do vírus durante uma relação sexual. Finalmente, os extratos destas plantas consubstanciam uma promissora fonte de agentes naturais para a descoberta de novas moléculas antivirais.
A equipa de Ruth Brack-Werner irá em breve iniciar trabalhos de investigação do potencial de antivirais resultantes de derivados destas plantas em humanos bem como efetuar uma análise detalhada das substâncias ativas envolvidas.
Planta de origem silvestre, o Cistus Incanus é uma planta tradicional do Mediterrâneo que desde a antiguidade tem vindo a ser utilizada para combater bactérias e fungos.
Alguns estudos revelam que os extratos da planta conseguem neutralizar, em culturas laboratoriais, a maioria dos vírus conhecidos num espaço de 9 a 24 horas, sem efeitos secundários em caso de tratamento prolongado.

Bibliografia:
Rebensburg, S. et al. (2016) Potent in vitro antiviral activity of Cistus incanus extract against HIV and Filoviruses targets viral envelope proteins. Scientific Reports, doi: 10.1038/srep20394 www.nature.com/articles/srep20394

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