23 Set, 2016

Fundação Grünenthal premeia trabalhos de investigação nacional na área da dor

Realiza-se esta tarde a cerimónia de entrega dos prémios atribuídos pela Fundação Grünenthal para os melhores trabalhos realizados por investigadores portugueses na área de estudo da dor

A Fundação Grünenthal acaba de distinguir um grupo de investigadores portugueses pelos trabalhos desenvolvidos na área de estudo da dor, em Portugal. Os prémios vão ser entregues ao final do dia de hoje, na Fundação Calouste Gulbenkian, numa cerimónia que vai ser precedida de um colóquio dedicado ao tema “Cognição e Dor”.

O Prémio de Investigação Básica, avaliado em 7.500 euros, foi atribuído ao trabalho “A injecção intra-articular de colagenase no joelho de ratos como modelo alternativo para o estudo da nocicepção associada à osteoartrose”, da autoria de Sara Adães, Marcelo Mendonça, Lígia Almeida, José M. Castro-Lopes, Joana Ferreira-Gomes, Fani L. Neto, do Departamento de Biologia Experimental, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, e do grupo de Morfofisiologia do Sistema Somato-sensitivo (Grupo de Dor), do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S).

“Os modelos animais usados na investigação da dor associada à osteoartrose centravam-se predominantemente no desenvolvimento de alterações que desencadeiam a dor, falhando na capacidade de reproduzir os mecanismos patogénicos e as características estruturais da doença. Assim, nós quisemos avaliar se o modelo da injecção de colagenase, até então utilizado apenas para o estudo das características estruturais da doença, reproduziria também as características da dor associada à osteoartrose. De seguida, utilizámos o mesmo modelo para estudar mecanismos patológicos subjacentes ao desenvolvimento da dor”, revela Sara Adães, investigadora principal do estudo vencedor.

E acrescenta: “Verificámos que o modelo animal apresenta um perfil de desenvolvimento de dor semelhante ao observado na osteoartrose humana, pelo que poderá reproduzir mais eficazmente as características da doença e, consequentemente, permitir uma melhor translação dos resultados experimentais para a prática clínica.

Observámos ainda que, numa primeira fase de desenvolvimento da doença, a dor associada à osteoartrose tem características predominantemente inflamatórias. No entanto, numa fase mais avançada, a progressão das alterações estruturais articulares cria condições que favorecem a lesão dos neurónios sensitivos que enervam essas articulações e o desenvolvimento de alterações com características neuropáticas, isto é, derivadas da disfunção do tecido nervoso”.

Relativamente ao que esta investigação vai trazer de novo no futuro, a investigadora revela que “vai contribuir para uma melhor compreensão dos mecanismos e das características neurobiológicas da dor associada a esta doença e para uma maior eficácia na transladação de resultados experimentais para a prática clínica e para o desenvolvimento de abordagens terapêuticas mais eficazes”.

Na categoria de Investigação Clínica, com um prémio monetário também de 7500 euros, venceu a equipa da Sociedade Portuguesa de Reumatologia composta pelos investigadores Nélia Gouveia, Ana Rodrigues, Sofia Ramiro, Mónica Eusébio, Pedro Machado, Helena Canhão, Jaime da Cunha Branco, com o trabalho “O encargo da lombalgia crónica na população adulta portuguesa: resultados de um estudo de base populacional (EpiReumaPt)”.

“Até à data, a prevalência e o encargo social da lombalgia crónica eram desconhecidos e o nosso Grupo de Investigação decidiu explorar esta questão tendo em conta os seguintes tópicos: prevalência, “peso” social da lombalgia crónica e análise do encargo adicional dos sintomas psicológicos (ansiedade e depressão) em indivíduos com esta patologia”, esclarece Nélia Gouveia, investigadora principal do estudo premiado.

“Este trabalho revelou que a lombalgia crónica é um problema de saúde muito comum em Portugal, afectando 10,4 por cento da população adulta (o que corresponde a mais de 1 milhão de portugueses). Verificámos ainda que a lombalgia crónica contribui para uma grande incapacidade por parte dos doentes e pior qualidade de vida, com efeitos consideráveis no desempenho laboral e bem-estar dos indivíduos, estando ainda associada a um grande consumo de recursos de saúde”, revela.

No futuro, a investigadora Nélia Gouveia acredita que “os resultados desta investigação vão poder ser utilizados num melhor ajustamento e planeamento dos recursos económicos e dos cuidados de saúde, necessários na definição da estratégia da política de saúde e apoio aos doentes com lombalgia crónica. Além disso, pode vir a ser implementada uma estratégia de prevenção, bem desenhada, que poderá ter uma acção muito eficaz na melhoria da qualidade de vida dos doentes e na diminuição dos custos para a sociedade em geral”.

O Júri do Prémio Grünenthal Dor foi constituído por sete elementos, um representante da Fundação Grünenthal e seis personalidades, médicas da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor, Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Sociedade Portuguesa de Anestesiologia, Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação e da Sociedade Portuguesa de Reumatologia.

Os Prémios Grünenthal Dor contemplam um valor pecuniário total de €15.000, igualmente distribuídos pelo Prémio de Investigação Básica e pelo Prémio de Investigação Clínica. Criado pela Fundação Grünenthal em 1999, constituem o prémio de mais alto valor anualmente distribuído em Portugal, no âmbito da investigação em dor.

A Fundação Grünenthal é uma entidade sem fins lucrativos que tem por fim primordial a investigação e a cultura científica na área das ciências médicas, com particular dedicação ao âmbito da dor e respectivo tratamento.

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