16 Jun, 2017

Investigadores portugueses descobrem novo mecanismo com efeito protetor contra sépsis

Uma equipa de investigadores liderada pelo português Miguel Soares descobriu um novo mecanismo que tem um efeito protetor contra a sépsis, uma infeção espalhada por diferentes partes do corpo e que pode ser mortal

O estudo foi publicado na revista científica Cell e foi divulgado em comunicado pelo Instituto Gulbenkian de Ciência, instituição a que pertence o investigador Miguel Soares.

Nos últimos cinco anos, esta equipa de investigadores tem proposto que os doentes que resistem à sépsis desenvolvem uma resposta protetora que mantém a função dos órgãos vitais, conferindo tolerância à infeção.

“Utilizando modelos experimentais de sépsis em ratos, a equipa de Miguel Soares descobriu agora um mecanismo que é vital para conferir essa tolerância”, refere o Instituto Gulbenkian de Ciência.

Segundo os investigadores, um elemento essencial para promover a tolerância à infeção é a forma como os níveis de ferro são controlados em diferentes tecidos. Ao mesmo tempo, sabia-se já que a forma de desenvolvimento (patogénese) da sépsis está associada com a desregulação do metabolismo da glucose (açúcar).

“O que descobrimos agora é que estes dois fenómenos estão intimamente interligados. O controlo do metabolismo do ferro é necessário para manter a produção de glucose no fígado, de modo a que este açúcar possa ser usado como fonte vital de energia para outros órgãos”, refere Miguel Soares na nota do Instituto Gulbenkian de Ciência.

Sebastian Weis, investigador que se encontra a fazer um pós-doutoramento com Miguel Soares, induziu sépsis em ratos de laboratório e comparou a progressão da doença em ratos com ou sem ferritina, uma proteína que controla o ferro no fígado.

Descobriu então que a ferritina é absolutamente necessária para que o fígado produza glucose depois da infeção e, assim, proteger o rato de sucumbir à sépsis.

“Os nossos resultados mostram que a ferritina controla a produção de glucose no fígado de modo a que os níveis de glucose no sangue sejam mantidos dentro de um limite que permita a sobrevivência. Sem ferritina, os níveis de glucose continuaram a descer e os ratos morreram de sépsis”, refere Sebastian Weis, atualmente investigador em Jena University Hospital (Alemanha), onde parte das experiências foram conduzidas.

A investigadora Ana Rita Carlos descobriu, por seu lado, que a razão pela qual a ferritina é necessária para que o fígado produza glucose prende-se com um mecanismo molecular que controla a expressão de um ou mais genes envolvidos neste processo.

“Ao mesmo tempo que é essencial para muitas funções celulares vitais, o ferro tem de ser controlado no fígado para que não interfira com a produção de glucose. O mecanismo molecular através do qual isto ocorre depende da produção de ferritina, um complexo proteico que liga o ferro e evita que este interfira com a produção de glucose”, explica Ana Rita Carlos, citada pelo Instituto Gulbenkian de Ciência.

Para o investigador Miguel Soares, este trabalho serve como exemplo do modo como uma investigação “sem um interesse comercial imediato” pode ter um impacto global no “tratamento de uma doença séria”.

A sépsis afeta mais de 18 milhões de pessoas por ano, correspondendo a 1.400 mortes por dia. Só na Europa e nos Estados Unidos da América, estima-se que haja 135.000 e 215.000 mortes por ano, respetivamente.

A sépsis é uma resposta descontrolada do corpo a uma infeção sistémica, espalhada por diferentes partes do corpo. O sistema imune de um indivíduo infetado tenta eliminar os micróbios responsáveis pela infeção, em muitos casos com sucesso, mas durante este processo provoca alterações significativas no normal funcionamento de órgãos vitais como o cérebro, coração, fígado, rins ou pulmões.

Nos casos mais severos, a pressão sanguínea também desce e esses órgãos acabam por parar de funcionar devidamente, resultando na morte do doente.

LUSA/SO/CS

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