11 Mai, 2017

Doenças Congénitas da Glicosilação

As Doenças Congénitas da Glicosilação (CDG) são um grupo de doenças metabólicas raras com mais de 100 diferentes subtipos. Em Portugal existem cerca de 70 casos confirmados.

Luísa Diogo, Pediatra

O que são estas doenças?

As Doenças Congénitas da Glicosilação (do inglês “Congenital Disorders of Glycosylation”- CDG) são uma família de doenças metabólicas raras, de cariz genético e hereditário. Atualmente conhecem-se mais de 100 diferentes formas de CDG, sendo que, na sua maioria, estas síndromes são multi-sistémicas, pediátricas, altamente incapacitantes e com uma grave componente neurológica. Estas doenças surgem quando ocorrem defeitos na maquinaria de adição de açúcares (glicosilação) a proteínas e/ou lípidos. A importância deste mecanismo molecular, a glicosilação, pode ser melhor compreendida pelo seu envolvimento na patofisiologia de uma grande variedade de doenças humanas comuns, incluindo o cancro, a diabetes mellitus, a deonça de Alzheimer, doenças cardiovasculares, imunológicas e infeciosas.

Há alguma forma de prevenção?

O diagnóstico atempado é essencial para que os doentes e famílias possam receber o melhor acompanhamento clínico disponível para cada tipo de CDG.assim como para que as famílias possam receber aconselhamento genético adequado numa gravidez posterior, uma vez que se trata de doenças hereditárias.

Como é feito o diagnóstico?

Estima-se que a forma mais frequente da doençaPMM2-CDG (CDGIa) –  possa ter uma incidência de 1/20000. No entanto apenas se conhecem cerca de 1000 casos em todo o mundo. Entre os principais fatores que contribuem para o subdiagnóstico destas patologias incluem-se, o desconhecimento destas doenças por parte dos profissionais de saúde e manifestações clínicas transversais e comuns a outras patologias mais frequentes.  Estes mesmos fatores resultam num tempo médio até ao diagnóstico de 2 a 5 anos.

Existem diversos métodos de diagnóstico, sendo que alguns são específicos de alguns subtipos da doença. Todavia, a focagem isoelétrica da transferrina (a transferrina é uma glicoproteína sanguínea, ou seja, uma proteína modificada com açúcares, presente no sangue) é o método standard de rastreio para um grande número de CDG e envolve uma simples análise sanguínea. Todavia, este é apenas um teste preliminar, sendo que, metodologias adicionais, mais complexas, incluindo a análise genética, são necessárias para obter um diagnóstico definitivo.

O diagnóstico pode ser feito no período pré-natal, em duas circunstâncias: quando há um prévio diagnóstico na família (caso “índex”) com alteração genética identificada, ou quando os sinais e sintomas exibidos pelo feto o façam suspeitar.

O tratamento é apenas farmacológico?

A grande maioria das CDG não tem qualquer terapia disponível. Alguns subtipos parecem beneficiar da ingestão de determinado tipos de açúcares. O transplante de órgãos, nomeadamente de fígado e coração, teve sucesso terapêutico em alguns doentes que apresentavam falência. Contudo, para a maior parte dos doentes, apenas é possível fazer a gestão das diferentes manifestações clínicas prevenindo e/ou tratando as complicações.

 

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