Parte II – Tratamentos para a ansiedade

A segunda parte do artigo aborda o tratamento das perturbações da ansiedade, que inclui o uso combinado e/ou separado de psicofármacos e de psicoterapia

 


LilianaSilva

Liliana Silva , Psicóloga, Coach e Hipnoterapeuta na WeCareOn

http://wecareon.com/profissional/liliana-m-silva/

 

Psicofarmacologia:

A psicofarmacologia, atua inicialmente no corpo, equilibrando os químicos que se encontram em desequilíbrio no cérebro, proporcionando alterações nas reações corporais face a uma ansiedade patológica. Com o equilíbrio cerebral e corporal a pessoa tende a conseguir encontrar mais capacidade para enfrentar as suas dificuldades e até mesmo deixar de apresentar os sintomas da perturbação. As drogas que reduzem a ansiedade são chamadas de ansiolíticos e atuam diretamente no cérebro, as principais são as benzodiazepinas (usados na ansiedade aguda, com por ex.: Valium (diazepam)) e os inibidores da recaptação do neurotransmissor Serotonina (ISRS) (com efeito mais tardio, como por ex.: Prozac (fluoxetina)). Estes ISRS são também usados no tratamento da depressão.

Psicoterapias:

A psicoterapia, atua primeiro ao nível, do pensamento, das emoções, do comportamento influenciando o corpo e o cérebro. Neste sentido também a psicoterapia, permite alterar as conexões no cérebro, de forma a que pela exposição, o estímulo imaginário ou real deixe de provocar respostas de ansiedade (Fonte: Neurociências – Desvendando o Sistema Nervoso).

Mesmo quando a psicofarmacologia é indispensável, a ciência é unânime em aconselhar a uso da psicoterapia sem efeitos secundários e como uma medida eficaz e necessária. Até porque, a pessoa precisa de ser capaz de entender e enfrentar os seus medos, sendo capaz de desenvolver estratégias pessoais para lidar ou superar com as situações ou objetos que provocam dificuldades.

Desta forma, apesar das influências genéticas e do meio, as pessoas podem ser ativas naquilo que lhes faz feliz ou que lhes provoca bloqueios, para isso precisam de adquirir competências que as autonomize, com sucesso e de forma positiva, face àquilo que lhe provoca medo, ansiedade ou stress e que lhes têm limitado a sua vida.

A psicoterapia tem sofrido várias evoluções em termos de técnicas terapêuticas, por exemplo, estudos em 2001 evidenciaram uma tendência para, as tarefas para casa, a prevenção da recaída, o uso da realidade virtual, o uso de técnicas de resolução de problemas, o uso do computador, a reestruturação cognitiva e o uso de técnicas de Auto monitorização (autoajuda) (Norcross, Prochaska & Hedges, 2001 cit in Moreira, Gonçalves & Beutler, 2005).

No que diz respeito às Perturbações da Ansiedade, o foco da abordagem cognitivo-comportamental está no topo dos tratamentos com maior eficácia para a maioria das pessoas e quase em exclusivo, no que diz respeito ao tratamento das fobias. Para outras pessoas e quanto às perturbações de ansiedade generalizada, outros modelos teóricos, também, revelam-se muito interessantes e eficazes, principalmente os de origem psicodinâmica e humanístico-experienciais. Sendo que os psicodinâmicos, permitem uma descoberta, compreensão e tomada de consciência das questões que estão na base dos medos. E, os modelos humanístico-experienciais, permitem uma centração no aqui e no agora e, no desenvolvimento e aprendizagem de novas sensações mais adaptativas (Moreira, Gonçalves & Beutler, 2005).

Seguindo também esta tendência, quer por serem consideradas terapia breves, eficazes e de fácil uso, vai-se explicar as duas abordagens usadas para a exposição dos exercícios práticos sobre como lidar com a ansiedade.

Psicoterapia Cognitivo-Comportamental

A psicoterapia cognitivo-comportamental (PCC), que também é chamada de terapia de 2ª geração, teve a sua origem por volta da década de 60 e derivou das teorias comportamentais (de 1ª geração, surgidas na década de 20 e efetivadas na década de 50). Esta terapia é considerada como a abordagem teórica mais dominante em quase todo mundo, não só pelos estudos em psicopatologia, mas também pelas evidências científicas quanto à sua eficácia em diversas situações (Herbert & Forman, 2011 cit in Lucena-Santos, Pinto-Gouveia, Silva Oliveira, et al. 2015).

Modelo Cognitivo-Comportamental de 2ª geração, pensamentos, emoções e comportamentos

Este modelo formula protocolos de tratamento para várias perturbações emocionais, integrando técnicas atuais quer comportamentais e quer cognitivistas, que se baseiam no princípio, que as cognições (pensamentos e crenças) mal adaptativas causam sofrimento emocional, desta forma ao serem modificadas quer o sofrimento emocional quer o comportamento mal adaptativo diminuem (Lucena-Santos, Pinto-Gouveia, Silva Oliveira, et al. 2015) (ver fig. 1).

 

 

 

Por volta da década de 90, as PsFoco do Mindfulness nas psicoterapia cognitivo-comportamental de 3ª geração.icoterapias Cognitivo-Comportamentais, começaram a integrar nas suas terapias, uma nova abordagem, proveniente da prática da meditação oriental – o mindfulness ou atenção plena. Mindfulnessimplica, a existência de uma concentração intencional para o momento atual, sem julgamentos e, sem envolvimento com o passado ou com o futuro (os pensamentos, sentimentos e sensações, são aceites como legítimos, importantes, sem categoria positiva ou negativa). Desta forma, contrariando a tendência das pessoas de estarem desatentas ou perdidas em reflexões e julgamentos que as distanciam da realidade presente (Kabat-Zinn, 1990 cit in Vandenberghe & Sousa, 2006).

Com o mindfulness pretende-se que a pessoa experiencie internamente as vivências emocionais, mesmo que tenha pensamentos, sentimentos ou sensações avaliadas como negativas. Pois é pelo enfrentamento e vivência emocional experiencial, que se contacta com aspetos que são condições de vida que merecem ser enfrentadas e também porque quanto mais se tenta não pensar, mais se pensa. Facilitando a ruminação mental e a da atenção seletiva para os conteúdos indesejados (Vandenberghe & Sousa, 2006) (ver fig. 2).

Ambas as PCC de 2ª e de 3ª gerações têm como lema o estabelecimento de objetivos claros, observáveis e que encorajem uma maior consciencialização dos pensamentos, sentimentos e sensações, refletindo-se numa melhoria da qualidade de vida (Lucena-Santos, Pinto-Gouveia, Silva Oliveira, et al. 2015).

 

Hipnoterapia (Hipnose clínica)

O termo Hipnose, surgiu por volta de 1840 pelo médico James Braid, que acreditava que as pessoas hipnotizadas estariam a dormir num estado de sono. Contudo a evidência científica demonstra com eletroencefalogramas (exames ao cérebro) que o estado de hipnose é diferente do estado de sono quando se está a dormir.

Assim a Hipnose pode ser explicada como uma forma de dissociação (natural e própria dos estados de consciência normais, como é o caso da concentração ou do “sonhar acordado”), que permite limitar o campo da atenção a um único pensamento ou sentimento. Desta forma, quando se experimenta este estado de espírito, de transe ou estado alterado de consciência, a pessoa consegue facilmente afastar da mente as preocupações e distrações do presente. Focando a sua atenção nas sugestões terapêuticas que o hipnoterapeuta indica para solucionar os seus bloqueios emocionais internos (Fonte: O livro do cérebro).

A hipnose permite uma apreciação e entendimento da dinâmica dos processos inconscientes no comportamento. E sob o estado de hipnose, as pessoas podem recordar-se de coisas não disponíveis à consciência em estado não-hipnótico. As memórias recordadas são usadas para perceber a dinâmica interna da pessoa e permitem também capacitar a pessoa para catalisar novas associações mais positivas. Essas memórias podem ser muito vívidas, permitindo também um alívio emocional muito positivo (Fonte: Compêndio de Psiquiatria).

Áreas do cérebro envolvidas nos estados alterados de consciência

Em termos biológicos, o cérebro tem a fascinante capacidade de conseguir produzir experiências conscientes incluindo estados alterados de consciência, transformando assim percepções e emoções (ver fig. 3).

Estes estados alterados ocorrem de forma muito natural e com todas as pessoas. Facilmente, quando se está acordado, em estado vígil, pode-se passar por diferentes fases naturais de consciência, como quando se está relaxado, concentrado ou até mesmo quando se está a sonhar acordado. Também, outros momentos podem provocar estados alterados de consciência, como cansaço extremo, perante um acontecimento stressante ou perante um estado febril. Todavia, estes estados alterados de consciência podem ser provocados de forma deliberada, como por exemplo, pelo uso de drogas, meditação e hipnose (Fonte: O livro do cérebro).

A hipnose tem sido usada com sucesso em muitas situações, como controlo da obesidade, nas adições de substâncias como álcool ou nicotina, na indução de anestesia sem qualquer químico anestésico, no controlo da dor crónica, asma, prurido, afonia, transtorno conversivo e ainda como indutor de relaxamento na exposição sistemática e no controlo de situações fóbicas que permitem reduzir a ansiedade (Fonte: Compêndio de Psiquiatria).

Parte II – Exercícios Práticos e Eficazes

Complementar à Parte I – Compreender a ansiedade, diagnóstico e tratamentos, esta Parte II, vai permitir-lhe assimilar as informações teóricas adquiridas, com os exercícios práticos. O objetivo é que possa sentir-se ajudado(a) a interagir positivamente com a ansiedade e a treinar estratégias eficazes de combate à ansiedade patológica. Aprender a gerir e como lidar com a ansiedade. Todavia, este guia teórico-prático não substitui a análise detalhada e personalizada por um especialista em saúde mental.

Este guia é para mim?

Apesar de alguns exercícios poderem ser úteis para crianças e adolescentes, este guia está dirigido à população adulta.

Se não tem uma perturbação de ansiedade diagnosticada, mas gostava saber como lidar com a ansiedade no dia-a-dia, este guia é para Si. SIM!

Que benefícios tem este guia?

Como vimos na parte teórica, a ansiedade, o medo e o stress são vantajosos e úteis nas nossas vidas. Eles permitem reagir e agir perante ameaças reais, permitem ultrapassar desafios e ter entusiasmo pela vida. Todas as pessoas, mesmo as que não tenham uma perturbação de ansiedade diagnosticada vão beneficiar das dicas e dos exercícios aqui propostos.

Este guia, vai ajudá-lo(a) no mínimo em 7 pontos importantes:

  1. Prevenir a ansiedade patológica;
  2. Saber identificar quando a ansiedade é normal ou está a ser patológica;
  3. Ter um maior conhecimento sobre si próprio(a);
  4. Desenvolver a sua inteligência emocional;
  5. Melhorar o seu comportamento nos relacionamentos, na sua ocupação (profissional ou estudante) e consigo próprio(a);
  6. Aprender estratégias úteis quando estiver perante momentos de vida stressantes ou quando a ansiedade estiver a ser nefasta para si, para a sua vida pessoal, profissional ou social.
  7. Aconselhar ajuda e/ou ajudar alguém seu (sua) amiga.

Como usar os exercícios

Os exercícios podem ser usados sem ordem específica, sendo que se pode realizar um, vários ou todos os exercícios, mediante a necessidade face aos desafios do dia-a-dia. Todos eles têm base científica estudada e comprovada, contudo não substituem um processo terapêutico individualizado. Sinta-se confortável para escolher mediante a sua vontade, disponibilidade e interesse. Vamos de seguida listar os exercícios para aprender como lidar com a ansiedade.

Veja aqui todos os exercícios.

 

Pode ler o artigo original em http://wecareon.com/como-lidar-com-a-ansiedade/

 

 

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