Vitamina C para controlar doenças neurodegenerativas

Um grupo de investigadores do Porto identificou como determinadas células do sistema nervoso captam a vitamina C, um antioxidante que regula a inflamação, com o objetivo de criar ferramentas que controlem o processo neuroinflamatório mais eficazmente em doenças como o Alzheimer

Este projeto internacional, liderado pelo Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto, visava definir alguns mecanismos que regulam a função das células da microglia (células de defesa que residem no sistema nervoso) no cérebro adulto e deu origem a um estudo publicado recentemente na revista científica “Science Signaling”.

“As células da microglia são responsáveis por várias funções de monitorização neuronal, pela resposta do cérebro ao trauma e à doença” e são estas que captam a vitamina C, através de um transportador que têm na sua superfície, designado SVCT2, explicou à Lusa o coordenador do projeto, João Bettencourt Relvas.

Através dessa monitorização, as células da microglia detetam alterações patológicas, iniciadas após infeção por bactérias ou vírus, ou decorrentes de doenças neurodegenerativas, como o Parkinson, o Alzheimer e a esclerose múltipla.

Dessa forma, “qualquer agressão ao cérebro é prontamente identificada” por essas células que, ao serem “ativadas”, “desencadeiam uma resposta inflamatória local que ajuda a restabelecer o normal funcionamento do cérebro”, indicou o investigador.

Contudo, como refere João Relvas, “se por um lado a inflamação moderada ajuda nos processos regenerativos e de cicatrização, quando se torna crónica pode, ela mesma, levar à destruição das células e à morte dos tecidos, com efeitos dramáticos no caso do cérebro, que estão na base de várias doenças neurodegenerativas”.

Para o investigador, embora seja “difícil” definir o momento em que a inflamação passa a crónica, existem sinais que identificam essa passagem, como é o caso da permanência da neuroinflamação por períodos de tempo prolongados e, sobretudo, a existência de perdas neuronais e cognitivas associadas.

No artigo publicado, cuja primeira autora é a investigadora do i3S Camila Portugal, os especialistas indicam também que para uma boa resposta anti-inflamatória é necessário que a vitamina C já esteja presente quando se inicia inflamação.

Quando não se verifica essa situação, o transportador SVCT2 é “recolhido” pela célula, não adiantando “ingerir mais” vitamina C.

Esta vitamina “é o antioxidante natural mais importante do nosso organismo” mas, ao contrário do que acontece com outros animais que a produzem, nos seres humanos ela é “inteiramente proveniente da dieta” e a sua carência pode provocar escorbuto (caracterizado por sangramento, inflamação gengival e perda de dentes, inflamação e dor nas articulações, queda de cabelo, anemia e hemorragia).

Ao compreenderem “melhor” a regulação e a função deste transportador na superfície das células, em situações normais e em situações patológicas, os investigadores esperam criar ferramentas que permitam modular a quantidade do SVCT2 e, assim, controlar o processo neuroinflamatório de forma mais eficaz.

Para além do i3S, participaram neste estudo investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) e do Instituto de Imagens Biomédicas e Ciências da Vida (IBILI) da Universidade de Coimbra, da Universidade Federal Fluminense (Rio de Janeiro, Brasil), dos departamentos de neurologia das universidades de Munster e Aachen (Alemanha) e da Universidade do Illinois (Chicago, Estados Unidos).

LUSA/SO/SF

 

Gedeon Richter

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