20 Jan, 2017

Risco de mortes no Inverno sobe em concelhos com piores condições habitacionais

Os concelhos com piores condições de habitação e com maior privação sócio material registam um maior risco de mortes por doenças circulatórias no inverno, conclui um estudo da Universidade de Coimbra (UC)

Face à importância desses dois fatores, os concelhos com temperaturas mais baixas não são necessariamente os concelhos com maior risco de excesso de mortes por doença do sistema circulatório durante o inverno, sugere um estudo realizado pelo investigador do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT) da Universidade de Coimbra Ricardo Almendra.

De acordo com a investigação, a população residente nos municípios com as piores condições habitacionais e maiores níveis de privação sócio material (desemprego e baixa escolaridade, entre outros fatores) apresentam um aumento de 70% e de 60% do risco de excesso de mortalidade no inverno, respetivamente.

A temperatura, por si só, não é um fenómeno determinante, disse à agência Lusa o investigador.

Aliás, o excesso de mortalidade no inverno é mais expressivo em Portugal do que nos países do norte da Europa, onde as temperaturas são mais baixas mas onde as populações estão mais preparadas e “menos expostas ao frio”, recordou.

O estudo, realizado no âmbito da tese de doutoramento de Ricardo Almendra, procura analisar, por concelho, a relação entre o excesso de mortes por doenças do sistema circulatório (por exemplo AVC ou enfarte) no inverno, entre 2002 e 2011, e as condições de habitação e privação sócio material.

Apesar de os dados obtidos pela Lusa não estarem desagregados por concelho, é possível observar um maior excesso de mortalidade por doenças circulatórias durante o inverno em regiões como o Alentejo, Beira Baixa e Beira Alta.

Porém, nos distritos de Bragança e de Vila Real, onde se registam por vezes temperaturas abaixo dos 0º Celsius, há zonas desses mesmos territórios onde o risco é mais reduzido.

Um estudo da Universidade de Londres demonstra que a exposição ao frio pode estar associada a um aumento da tensão arterial e da viscosidade do sangue, podendo estas situações causar doenças cardiovasculares, especialmente em pessoas mais fragilizadas ou com um sistema circulatório fraco.

No entanto, “a mortalidade em excesso [no inverno] não é uma inevitabilidade ambiental ou meteorológica”. Caso assim fosse, “Portugal teria menos excesso de mortalidade [durante o inverno], em comparação com outros países”, notou Ricardo Almendra.

Nos dez anos analisados, foram registadas 350 mil mortes por doenças do sistema circulatório em Portugal, sendo que se verifica um aumento de 27% de óbitos durante o inverno – situação com menor expressão no litoral.

Um estudo de 2003, realizado no Urban Institute of Ireland, nota que Portugal é o país com maior excesso de mortalidade no inverno, seguido de Espanha e da Irlanda, entre os 14 países europeus analisados.

Esse mesmo estudo defende uma “melhor proteção do frio no interior das habitações, aumento dos gastos públicos na saúde e melhores circunstâncias socioeconómicas, resultantes de uma distribuição mais equitativa da riqueza” para reduzir a elevada mortalidade sazonal no sul da Europa, identificando como fatores nas variações da mortalidade durante o inverno a desigualdade, a pobreza, a pobreza energética e os gastos em saúde ‘per capita’, entre outros.

A tese de doutoramento de Ricardo Almendra sobre a vulnerabilidade ao frio está a ser realizada no Grupo de Investigação em Geografia da Saúde, integrado no CEGOT, e é orientada pela professora catedrática da UC Paula Santana e coorientada por João Vasconcelos, do Politécnico de Leiria.

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